Frase do dia – valeu minha semana

11:37AM Nat: Esses caras duvidam da existência de mulheres que racham a conta basicamente porque elas jamais saem com eles.

Quote of the day – it made my week

By Nat – Those guys doubt the existence of women who pay their part on the bill basically because those women would never went out with them.

Advertisement

Os não dias das mulheres

Ano passado escrevi este texto. Fui rever hoje, e é incrível como quase nada mudou. O último episódio mostra que alguns até evoluiram, hoje nos defendem, o que já é alguma coisa. Mas são as mesmas agressões, dissimuladas ou não. Medo de perder a supremacia, o monopólio? De mudanças, o esforço para que tudo continue igual?
Mudou talvez o quanto eu me desgasto com o assunto. Mudou talvez a grande figura do ano, ao inves de Caroline, uma das 10 mulheres mais poderosas do país pela revista IstoÉ Gente é a senadora Heloísa Helena, mulher porreta. Mudou minha leitura, entre ódios e amores com a TPM, que este mês está perfeita, falando sobre envelhecer. Qual a receita? Tenha objetivos, projetos, sinta-se viva, útil.

O que mudou muito pouco??? As mulheres. As que fugiam do rótulo de feminismo, continuam. As que gostam dos paparicos sem esforço, nem fazem esforço por refletir. E olha que muitas fazem questão de cobrar reflexões no Natal. As que continuam usando o feminismo para proveito próprio, continuam. As que apenas bradam discursos desgastados e vazios, continuam. As que se encolhem e temem a liberdade e a possibilidade de controlarem a própria vida, continuam.

Parabéns porque mesmo? Porque eu sei que EU mereço. Eu faço diferente, e eu luto para que sejam diferentes, ou mais iguais. Em oportunidades, claro.

Parabéns as mulheres que sabem que merecem.

Women developing FLOSS – freedom for knowlege free from prejudice

I loved this title. GenterIT had interview myself, english version is under http://www.genderit.org/en/index.shtml?w=a&x=91693 .

“Mulheres desenvolvendo FLOSS(Free/Libre/Open Source software) – liberdade de conhecimento livre de preconceito”

Gente, adorei o título. Segue em baixo a entrevista em português, para o GenterIT. Com algumas atualizações…

1 – Como as LinuxChix Brasil vêm trabalhando para encorajar mais e mais mulheres a atuarem na área tecnológica, especialmente usando software livre?

O LinuxChix surgiu como um ponto de encontro e apoio para as mulheres que trabalhavam na área. Geralmente elas chegavam felizes e surpresas, pois antes achavam que “eu era a única!”. Isto era desmotivante, e elas se sentiam muitas vezes acuadas por comportamento discriminatório, piadinhas, falta de oportunidade. O pensamento reinante era de que “se as mulheres não estão aqui é porque não se interessam/não são capazes, a comunidade é aberta para todos”. O grupo se empenhou em debater os motivos que levam a existirem poucas mulheres na área, e principalmente trabalhando com Linux, e o que poderíamos fazer para que as próximas gerações não tivessem que enfrentar tantas barreiras caso, como a gente, quisessem optar por uma carreira tecnológica. Criamos documentos a respeito deste assunto e também assuntos técnicos para contribuir, afinal, nosso maior interesse era contribuir com a comunidade de software livre/aberto. E isto foi criando uma reação em cadeia onde mais mulheres viam exemplos de outras e se motivavam a ajudar, o que levava mais mulheres a verem estas outras e se interessarem pelo assunto, e assim por diante… Infelizmente, a comunidade se mostrava pouco amigável as mulheres, afinal, era uma meritocracia: você vale o que contribui. Se as mulheres não estavam inseridas, era porque não haviam contribuído, então porque mereciam reconhecimento? Claro que sempre houve contribuições de mulheres, e o LinuxChix veio mostrar isto e dar mais espaço para elas, dando um ambiente mais motivador para isto. E com exemplos de contribuições valiosas, as mulheres também sentiram que mereciam estar ali, não estavam lhes fazendo nenhum favor em aceitá-las. Assim, com mais espaço e contribuições, a comunidade aceita atualmente muito melhor a participação feminina e está disposta a discutir a respeito.

2 – O software livre é uma ferramenta de empoderamento para as mulheres? Por quê?

É uma ferramenta que libera o conhecimento, que promove a profissionalização e não impõe limites ao que um profissional da área pode fazer. Pesquisas mostram que 70% da população pobre é composto por mulheres, fruto direto dos milênios os quais elas foram impedidas de terem acesso a estudo e profissão. As mulheres agora são maioria nas universidades, eu acredito que porque não temos a mesma facilidade de ingressar no mercado de trabalho. Por exemplo, computador geralmente é encarado como um brinquedo de menino. Então este cresce e antes mesmo da faculdade já é apto para trabalhar, enquanto a menina precisa buscar o caminho do estudo. Na comunidade de código aberto, o importante é trocar e transmitir conhecimento, seja na forma de código, documentação, debates de idéias. É como se fosse uma biblioteca, uma gigantesca enciclopédia a disposição.

3 – Como as Chix atuam no campo político? Há envolvimento com outras organizações de mulheres, ou mesmo com outras entidades que lutam por políticas de inclusão digital? Vocês vêem alguma perspectiva de gênero no campo das políticas de inclusão digital no Brasil?

Nosso trabalho, embora muitas pessoas insistam em me dizer que é político, não é encarado desta forma. Existem outros grupos, como o Gnurias e o PSL-Mulheres que tem este foco político/inclusão digital. Nós acreditamos que sem mudar o preconceito existente na comunidade, sem mudar a idéia de que mulheres eram incapazes de trabalhar na área tão bem quanto os homens, inserir mulheres apenas para serem usuárias seria aumentar ainda mais o preconceito. Além do que nossa formação é técnica, nós contribuímos naquilo que melhor entendemos. Por um lado, o grupo tem um caráter de inclusão quando serve de motivo para que mulheres não deixem à universidade ou a carreira tecnológica pelas dificuldades encontradas: quando vêem um grupo onde podem buscar apoio, motivação, elas perseguem seus objetivos com mais certeza. Ou na luta contra o preconceito, que causa experiências de humilhação, agressão verbal, de uma agressividade tamanha que pode ser encarada como uma violência psicológica. Recentemente um indivíduo se cadastrou em várias listas de grupos femininos – várias listas do Linuxchix e do Debian Women – e fez ameaças, inclusive a parentes de mulheres ligadas ao grupo. E é claro que quando você tem o apoio e motivação do grupo, você se sente mais segura para enfrentar e não se deixar abater.

4 – Vocês mencionam um estudo que está sendo feito pela Vanessa Sabino. De que se trata este estudo?

Se trata de mapear diversas mulheres que tem contribuições valiosas na história da informática e do Linux. O grande mito na área é que estas contribuições não existem, e o estudo busca demonstrar que isto é mesmo um mito. Por exemplo, a pesquisa da Vanessa descobriu uma mulher como principal desenvolvedora do conceito de funções recursivas, um grande avanço na área. Ou a presença de uma brasileira entre os que já contribuíram para o kernel. E reunir estes dados em uma página de fácil acesso.

Atualização: o resultado está em http://wiki.linuxchix.org.br/

5 – E na área de treinamento de mulheres em software livre, o que as LinuxChix têm feito? Como é a participação das mulheres nos cursos? Você acha que a presença das mulheres é maior quando os cursos são oferecidos por mulheres?

Com certeza. Não temos estatísticas, mas sempre vejo comentários de que quando mulheres sabem que são mulheres que vão ministrar, elas se motivam mais. Antigamente, elas dificilmente se motivariam a tirarem um final de semana para irem a um ambiente hostil, correrem o risco de serem alvos de piadinhas machistas até mesmo por parte do instrutor. E isto também nos eventos. No ano passado, no Encontro Nacional Linuxchix em São Paulo, a presença feminina era de cerca de 15%. Este final de semana, no Encontro de Usuários Slackware(SlackwareShow) no mesmo local, em que eu era a única palestrante, havia um número muito menor: menos de 15 mulheres entre 300 participantes. Nós buscamos promover cursos de profissionalização sempre que há espaço. No Encontro Nacional LinuxChix deste ano houve laboratório disponível onde vários cursos foram ministrados, metade por instrutoras. No ano passado, Camila Sanches ministrou um curso de Emacs – ambiente de desenvolvimento – na Semana de Informática da Faculdade Comunitária de Campinas. E temos outros previstos, tanto presenciais quanto on-line, que já estão sendo organizados.

Atualização: caçando meus números oficiais(lista de inscritos), encontrei os dados referentes a participação feminina no Encontros Linuxchix-BR: 23 no segundo e 45 no terceiro. Infelizmente os dados do primeiro não ficaram comigo, mas não era muito diferente do número do SlackwareShow.

6 – Em sua opinião, que elementos ainda restringem uma maior participação das mulheres nas carreiras tecnológicas? Como superar isso?

Primeiro é este preconceito de que mulheres não entendem de computadores. Ou se entendem, no máximo podem fazer interfaces bonitinhas ou documentos para organizar. E existem sim os trabalhos que tem mais reconhecimento, os que exigem mais experiência, e se elas são sempre desviadas para estas outras áreas, não estarão verdadeiramente inseridas. Mas este é um problema que as próprias mulheres precisam assumir a responsabilidade de mudar. Eu sempre repito que “o que seria do machismo sem as mulheres para perpetuá-lo”. São as mães que esperam que suas filhinhas sejam amáveis garotinhas vestidas de cor de rosa, e as ensinam a brincar de boneca e casinha para treinar novas donas de casa sem espaço no mercado de trabalho. São as mulheres que usam a mais conhecida arma feminina – o veneno – para competirem ao invés de se unirem e se fortalecerem. Enquanto não nos reconhecermos como cúmplices, como classe, não vejo muita possibilidade de nos fortalecermos o suficiente para equilibrarmos a balança.

7 – Que conselho você daria para as leitoras que têm vontade de aprender a desenvolver tecnologia em software livre e ainda não deram o primeiro passo?

Que dêem este primeiro passo 😀

Que se inscrevam na LinuxChix, se apresentem e falem dos seus gostos. Que passem a utilizar e compartilhar o que vão aprendendo. Sempre vai ter alguém que vai ser ajudado pelas suas experiências, e alguém que vai lhe ajudar a melhorar os seus conhecimentos. Isto é um movimento natural e gradativo, quanto mais você contribui, mais você recebe e aprimora suas habilidades. Este é o principio de troca de conhecimentos sobre o qual o movimento de código aberto está estabelecido. E claro, que não desanimem perante as dificuldades: acreditem, elas já foram muito piores.