Essa foi uma semana desastrosa para a diplomacia brasileira. A reunião de ontem foi inacreditável. Evo Morales se fortaleceu. Hugo Chávez cantou vitória. Néstor Kirchner disse que o importante é o suprimento. Lula disse que agora a Bolívia vai apresentar uma lista de demandas.
O Brasil foi o maior derrotado na reunião. O que houve foi um precedente perigoso: há muitas empresas brasileiras em vários países latino-americanos. Essa presença tem crescido.
A informação que o evento passou é que tudo pode acontecer: todos os direitos das empresas desrespeitados, todos os contratos rasgados, porque o presidente do Brasil se solidariza e ajuda o país que agrediu.
Há muita coisa que podia ser feita, de forma pacífica e diplomática. Primeiro: agir preventivamente. Evo Morales disse que iria fazer o que fez. O governo brasileiro errou ao não acreditar. Deveria ter tentado mostrar os riscos desse caminho.
Segundo: depois que tropas ocuparam as instalações da Petrobras e que os contratos foram rasgados, o Brasil tinha que ter dito que não gostou – em uma nota de repúdio, pelo menos.
Terceiro: não podia ter feito uma reunião com a de ontem. Se fizesse, não poderia ter convidado Hugo Chávez. Se convidasse, não poderia ter deixado Chávez falando mais que todos e com a última palavra. O Brasil pareceu, na reunião, derrotado e submisso.
A Bolívia é dona de suas riquezas e pode mudar suas leis, mas todos os países devem respeito ao direito internacional. Portanto, cada país tem limite até dentro do seu território. O que houve não foi um pedido de aumento de preços – se fosse isso, bastava propor uma negociação. A Bolívia fez foi um ato hostil antes de conversar. E pelo que Lula disse ontem, vai ser recompensada por isso.
Só acredita em Hugo Chávez quem quer
Hugo Chávez está em toda parte do mundo, mas e os problemas internos da Venezuela? O país está perdendo uma grande oportunidade: aproveitar a alta do petróleo para e desenvolver.
As receitas venezuelanas aumentaram muito, e o governo Hugo Chávez está nadando em dinheiro. Mas ele é péssimo administrador. Caracas está cada vez pior, porque ele não investe nem em melhoria urbana na capital. Quem financia o metrô de Caracas é o nosso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A pobreza não diminuiu, a desigualdade não caiu e a violência aumentou. Para se ter uma idéia, a Colômbia, país que sempre teve muito problema com a violência, está comemorando bons resultados na queda dos números de homicídios.
Chávez gasta a maior parte do seu tempo em brigas externas e atos espetaculares para chamar a atenção. Nos negócios, é um pragmático: os estados unidos são o país com quem tem o maior comércio e no qual mais investe.
Seu plano é aumentar o poder da PDVSA, que é o seu braço para agir. O dinheiro da empresa financia o governo. Essa galinha dos ovos de ouro está agora avançando sobre os outros países.
Na Bolívia, Petrobras e PDVSA são competidores, e nessa semana a empresa venezuelana pôde comemorar sua vitória sobre a Petrobras. Só acredita em Hugo Chávez quem quer – e Lula, pelo visto, quer.
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