Carnaval já foi tempo de noites sem dormir, porres e ressacas memoráveis – ou não -, muita cerveja, muita bagunça, pouco descanso e nenhum conforto. Mas sabe, depois de um certo tempo, cansa. E eu cansei. Principalmente depois que Carnaval virou sinônimo de funk, axé music e latas de espuma em spray. Então, como a maioria dos nerds e geeks que eu conheço, eu queria fugir disto. (Nerd que gosta de carnaval eu só conheço um, geeks conheço vários). As opções mais óbvias seriam ir para o meio do mato ou ficar em São Paulo mesmo, onde quem quer curtir o carnaval vai para outros lugares, deixando a cidade sem transito, olha que maravilha. Mas para mim, isto não era suficiente…
Desafios: eu amo agua, então queria ir para uma praia. Mas como ir para uma praia no Carnaval para fugir do Carnaval?(para você que não vai querer ler este post até o fim, adianto: não existe). Será possível alguma praia neste país seja reservada a quem quer fugir do Carnaval? Será possível ir a algum lugar, achar que está a salvo, e quando está se preparando para um delicioso soninho embaixo do guarda sol, enconstar um daqueles carros que os donos gastam o valor do carro no som, abrirem o porta malas e tocarem Ivete Sangalo até as 6 da manhã? Será possível encontrar algum lugar tão bom que retribua uma viagem com direito a castelos pela Espanha?
A saída: Ilha Grande. A Ilha é uma reserva ecológica, onde carros não são permitidos, o que acaba com o problema dos carros de som. Tem praia, eeeeeee. Alias, tem muitas praias, muitos eeeeees. Fica do lado de Angra dos Reis, de onde você toma uma barca ou embarcação e navega uma hora e meia. Existem opções em outros portos perto de Angra, mas Angra é onde tem a rodoviária. Tem aeroporto também, mas aparentemente apenas para vôos fretados. Então o jeito é enfrentar 7hs de busão. Apenas uma empresa faz a linha São Paulo – Angra, mas pelo menos o onibus tinha ar condicionado e poltronas super reclináveis. Pena que não tinham seguro contra gente que acha que tem direito de ficar no ônibus “vamos acordar, é carnaval”. Eu sei que é Carnaval, se o seu é fazer farra, joia, dou a maior liberdade, mas pq eu não tenho liberdade de querer dormir? (isto daria uma redação a parte…)
Enfim, vamos ao melhor de Ilha Grande:
Pousada Aquario – na verdade é um albergue, mas um albergue de luxo, com um banheiro por quarto. Fica no canto esquerdo da praia do Abraão, o “centro” da ilha. Fica perto do centro o suficiente para em 10 minutos você estar onde estão os restaurantes, mercadinhos e agito, mas longe o suficiente para você conseguir dormir, enquanto o axé corre solto até as 4 da manhã(depois das 4 começava a rave). O lugar é lindo, e tem este nome porque tem um aquario construído na frente. Me parece que o aquario era super famoso, mas como o lugar passou anos fechado, este foi depredado. Mas enfim, de todos os quartos você acorda na beira do mar. Você toma café na beira do mar. É tudo super simples, mas por ser um albergue sempre tem gente de todo lugar, de vez em quando rola uma festinha ou churrasco, tem serviço de lancha ali mesmo, então dá pra juntar uma galera ali e aproveitar o fato que o barqueiro conhece os horários das scunas e pode lhe ajudar a curtir os lugares sem milhares de pessoas a volta.
Passeios: dependendo da sua animação, você pode querer pular carnaval e ir em uma scuna. O preço é legal, e você passa o dia com mais 100 pessoas, passeando por pontos conhecidos da ilha, ao som do melhor axé music. Não é fã da muvuca? Pode juntar um grupo menor e dividir uma lancha para fazer passeios pela ilha, por pontos conhecidos ou fazer a volta a ilha, o que faltou pra mim esta vez.
Restaurantes: o Rei da Moqueca tem pratos generosos e muito bem preparados. Fica na beira do mar, você come com o pé na areia, curtindo a brisa do mar. No calorão do Rio de Janeiro, isto ajuda muito na digestão. Para quem busca opções mais baratas, o Minha Deusa tem pratos completos muito mais em conta. E existem restaurantes em outras praias, onde você pode parar para comer.
Sorvete: de torta de limão na sorveteria do lado do cais. Não lembro o nome, mas era uma delícia. Como todos os outros sabores.
Praias: não exatamente praias, os lugares legais da ilha são os propícios a mergulho. A maioria dos barcos te leva a lugares mais claros e sem corrente, com boa visibilidade. Existem lugares chamados Lagoa Azul, Lagoa Verde. Praias pequenininhas que somem na maré cheia. Agua transparente, com visibilidade geralmente de 10 metros.
Hector e eu eramos sempre os ultimos a notarmos que todo mundo já havia voltado ao barco, de tão entretidos buscando peixes coloridos e estrelas do mar. Ele vivia mergulhando mais profundamente para buscar as correntes de agua gelada.
E a ilha é fantastica, qualquer ponto é ótimo para ir ver corais, caranguejos, e um peixe esquisito que colocava algumas barbatanas para frente para ficar vasculhando a areia como se fossem mãos. Um peixe tipo peixe-espada com pintas azuis, que ficou curioso de ver seres estranhos o observando tão fixamente e veio na nossa direção, mas ele de frente era um pouco menos simpático, o que provocou a debandada geral. Vi também uma moréia, que bicho feio… saí de perto rapidinho.
Preservação: a Ilha está bem preservada, mas segundo relatos, já esteve muito melhor. Eu fiquei impressionada com a quantidade de estrelas do mar, e até achei que devia ser devido a eles não deixarem levar estas como lembranças. O barqueiro me disse que não deixavam mesmo, mas a proliferação das estrelas do mar é devido ao fato dos seus predadores naturais, algumas especies de peixes, estarem morrendo. Não era difícil encontrar também plasticos, latas e até potes de shampoo passeando. Uma atitude muito legal era dos mais conscientes que catavam isto e colocavam no barco, para tirar do mar e colocar no lixo. Seria tão simples se cada um ao invés de pensar “é só um papelzinho, tem gente que faz pior”, pensasse “a minha parte eu faço”. Se cada um fizesse a sua, o mundo seria tão melhor… Tambem contaram que existe uma baía no Rio de Janeiro, que de tempos em tempos precisam tirar o lodo do fundo do mar. Segundo a lei, as balsas que carregam o lodo deveriam despejar a 50 milhas marítimas mar adentro. Mas sem fiscalização, elas jogam logo na entrada do mar. E com a maré cheia, o mar espalha o lodo por todas as ilhas. E o pior é que existe uma industria perto de produtos quimicos, e com a chuva muitos resíduos acabam nesta baía…
Enfim, o Carnaval que eu mereço. Praia, mergulho, sossego e um homem lindo pra tornar tudo ainda mais interessante.