Ontem, depois de decidir onde e qual bicicleta comprar, resolvi atravessar a cidade para dar uma olhada na feirinha da Liberdade. Sempre tem algo legal. Ainda novata na área do lado de cá da Marginal, acabei caindo na Bandeirantes, planejando ir até a Av Ibirapuera para pegar a 23 de maio. Assim que caí na Bandeirantes, tinha um carro na minha frente e um caminhão do outro lado, e à frente deles bastante espaço. Não gosto de ficar atrás dos caminhões porque você não vê nada, então fiquei atrás do carro e meu reflexo natural era que o carro ia logo passar o caminhão. Um outro carro tentou ultrapassar o caminhão pela direita e quase perdeu a frente. Porém depois manear a cabeça pela pressa desnecessária do outro motorista, me toquei que o carro a minha frente estava muito lento. E foi indo assim. E eu sem entender, até que o carro parou 100m antes do farol. Do nada. Sem pisca-alerta avisando nenhum problema. Já estavámos no trecho de três faixas, mas não tinha mais espaço para eu sair de trás. Sem pensar, meti a mão na buzina. A motorista me fez sinal para passar por cima, e eu fiz sinal com meu dedo médio.
Daí fiquei pensando, pra quê ela fez isto? Única e exclusivamente para me irritar. E nem exatamente para me irritar. Nunca vi aquela senhora na vida, foi apenas algum momento aleatório que ela escolheu descontar alguma frustração no trânsito. E eu, besta, sempre combativa, caí direitinho. Mas na hora a única coisa que eu pensei foi em gritar pra ela “vai pilotar fogão minha filha!”, e foi justo aí que eu pensei “peraí, o que foi que eu pensei??????”, logo eu! Tivesse eu em um momento mais zen – ou fosse eu uma pessoa mais zen – teria dado risada da infantilidade, sentido pena da frustração dela, dado a volta e pronto. Mas com a minha reação, ela conseguiu o que queria, agredir alguém. Afinal, não tem nada mais frustrante de brigar com alguém que não corresponde, a resposta é sempre o que alimenta alguém querendo briga. E eu sempre pronta pra guerra.
Há uns três meses tomei um susto. Reclamei de umas dores no peito na aula de spinning, e os instrutores me mandaram imediatamente para o médico. 30 anos, ex-fumante, anticoncepcionais desde sempre, não era um quadro muito promissor. Felizmente era apenas falta de condicionamento, mas o susto me fez decidir tentar ser um pouco mais zen. Será que tem graça? O vício da adrenalina pode sobrecarregar meu coração. E sabe como é difícil deixar qualquer vício… você nunca deixa porque não gosta mais, apenas quando está fazendo mal…
Ah, mas já voltei pro kung fu. As primeiras duas aulas me fizeram ver toda a agressividade acumulada. Sou combativa, faz parte da minha natureza. O que é péssimo porque pode ser facilmente usado contra mim. Mas colocar esta agressividade para fora é importante, ou ela sai nas horas erradas. Melhor colocar isto imaginando um pescoço sendo esfaqueado com a minha mão, ou um estômago sendo chutado bem na boca. E claro, exercitar meu perfeccionismo, para que o golpe saia exato, rápido, e com equilibrio.
Eita pessoinha difícil de se controlar…