Hoje encerrei mais uma “amizade”. Me peguei pensando em como as pessoas conseguem ouvir apenas o que elas querem ouvir, e pensando perplexa como um argumento “eu não gostei do que você fez” se transforma em “você é a dollares, passando de carro enquanto pobres batem na janela”. E logo me passou pela cabeça que é bem feito pra mim. Não era a primeira vez que esta pessoa pisava na bola, nem a segunda nem a terceira. Então estava pensando em como a gente acaba se envolvendo em relacionamentos abusivos também com amigos, onde a gente não tem coragem de botar um ponto final, e porque.
Medo de ficar sozinha aqui não se encaixa, a não ser alguém que tenha um único amigo no mundo inteiro, o que já é bizarro o suficiente. Mas para quem valoriza amizade acima de muitas coisas, eu sempre fico pensando que não pode ser, deve ser minha culpa, não devem ter me entendido direito. Só que amizade deveria significar “eu conheço você, eu sei das suas qualidades e defeitos e confio em você”. Então porque existem “amigos” que periodicamente querem que você prove que não é uma pessoa de mal carater? Que se você mudou de emprego, talvez esteja passando por um periodo de adaptação e sem tempo para ficar no messanger. Que se você está progredindo financeiramente, um amigo de verdade ficaria feliz, não exigindo provas de que você não está ficando interesseira. Claro, a velha cultura brasileira de que ninguém pode progredir financeiramente sem ser uma má pessoa, sem se tornar esnobe. Bom, cada um julga os outros por si mesmo, e espelha nos outros as próprias frustrações…
Periodicamente eu passo por uma situação destas. Acho que a mais antiga que eu posso lembrar agora foi quando entrei na universidade. Alguns meses antes, minha melhor amiga começou um namoro e seguindo a regra básica de muitas mulheres, começou arrumar desculpas para não sair comigo. Virou patricinha também, e as conversas se resumiam a marcas de roupas que tinha comprado, o nome dos barzinhos que tinham ido, bla bla bla. E bom, como eu não comprava – e não compro – roupas por causa da marca, eu não me encaixava no novo mundo. Então um dia enchi o saco, mas ao invés de falar porque, comecei a evitar. Pouco tempo depois, vestibular, e novos habitos, aulas, universidade durante todo o dia, fim do colegio, obviamente minha turma começou a mudar. E resultado, eu era a nojenta que ficou metida depois de entrar pra universidade.
Eu não gosto de fazer sempre a mesma coisa. Então como epocas de mudança vem sempre em vários aspectos da vida, eu um dia cansei de fazer o mesmo programa toda santa sexta feira, eu comecei num novo emprego, um novo namoro. E um casal de “amigos” – que já estava incomodando com as brincadeiras e insinuações – mas ao invés de eu dizer que me incomodava, eu comecei a evitar. E eu achei que tinha o direito de fazer outras coisas com minhas sextas feiras ao invés de ter que provar que eu ainda era uma boa pessoa indo ao mesmo bar como sempre. E como isto foi interpretado? Com a desculpa patética de que eu gostava mais dos meus amigos quando eles tinham um carro que eu tinha andado duas vezes… onde é que eu arrumo estes amigos????? E o pior, um dos ultimos contatos foi para tentar indicar um deles para um emprego. Que pessoa horrorosa que eu sou…
E agora mais um, que adora fazer analises psicologicas de todo mundo, porque como é ator, sabe tudo sobre todos, porque a linguagem do corpo fala – até pelo messenger aparentemente se pode ler a linguagem corporal – pela enésima vez vem fazer analises de botequim. Da penultima vez q eu dei ouvidos à criatura, eu tinha acabado de chegar nos EUA, o que tinha levado 14hs de voo, mais duas de conexão, duas de espera no aeroporto, mais uma hora até o local do evento. Depois de desfazer a mala, louca por um banho, eu caio na besteira de abrir o computador para responder mails antes de desligar tudo, telefone, me recuperar da viagem e do jet lag. E lá vem a criatura, e eu burra penso “eu posso adiar meus planos 15min para dar atenção, faz tempo que não falo com ele”. E por que eu mencionei que ultimamente tinha saído um pouco da minha casca e conversado mais aleatoriamente com pessoas na rua, no elevador ou no taxi, lá vem a analise de botequim: alguma bullshit sobre jornada do heroi, que agora estava querendo manipular as pessoas e ‘reje-las'(sic). Mandei a merda e fui tomar meu banho e dormir. Depois de alguns meses, aquilo ainda ficou por muito tempo engasgado, porém fiquei esperando um momento melhor para ter tempo e explicar direito que não gostei. Só que não conseguia falar com a pessoa, aquilo ainda engasgado, e o pior é que de vez em quando lá vinha a analise feita tipo horoscopo de jornal de bairro. Daih finalmente esta noite resolvi que não ia ter nada de melhor momento, e falei tudo. Obviamente, da maneira mais direta e dura possivel, pq depois de tanto tempo, óbvio que saiu tudo da pior maneira. Só que aí você vê as verdadeiras cores das pessoas. Eu sempre achei que amigos de verdade você só conhece mesmo depois do primeiro arranca rabo, mas já não sei mais. De repente o que eu falei sobre ter deixado de lado meu proprio cansaço e conforto para dar atenção a figura, se tornou em algumas frases incoerentes – e em péssimo portugues, btw – sobre sucesso financeiro, passando no carro enquanto os pobres batem na janela do carro, senhora dollares – dor + dolares. Uh? Quer saber, eu estou progredindo financeiramente sim, eu trabalhei duro e mereço ser recompensada. E daí? o que tem a ver com o assunto? Meu sucesso te incomoda? Não precisa fofo, eu trabalho muito, mato vários leões por dia, se quiser pode fazer isto também. Se você não quer passar todo este trabalho, então não se sinta incomodado com o fato de que eu viajo sim bastante, e cuido de mim.
De vez em quando eu passo por estas situações, e acho que elas se repetem porque eu fico achando que entendi errado, que eu tenho que me acalmar e esperar o momento certo de conversar com a pessoa. Eu ainda tenho que aprender a falar na hora em que a merda acontece, e depois que a pessoa vem querer fazer de conta que nada aconteceu – nada típico dos homens – saber que se eu fingir que nada aconteceu, mais pra frente isto vai sair atropelando e sair muito pior do que a encomenda.
Mas quer saber, ainda que estes desabafos e acertos de contas tenham saído mal calculados, atropelados e com mais raiva do que deveriam, no fim tudo acabou como deveria. Eu não preciso de amigos que exigem que eu esteja periodicamente prestando contas das minhas intenções e carater. Eu até posso me explicar uma vez, duas se for alguém muito importante. Amigos de verdade podem precisar de desculpas quando numa briga a gente se excede, mas além de saberem admitir seus proprios erros e pedirem desculpas também, não precisam questionar seu caráter.
O que me lembra que tenho que chamar um ou dois para uma conversa antes que vire uma bola de neve… 🙂
Se você tem problemas tão reiterados no relacionamento com “amigos”, tem algo em você mesma que é a outra metade do problema.
Certamente, e se ler meu relato vai ver onde. Mas acho que o fato que tenho tantos amigos de longa data que se mantem meus amigos pesam mais que alguns desgarrados. Mas é engraçado ver como certas pessoas, como você por exemplo, adoram criticar. Um relato de três problemas ao longo de 15 anos já serve para sair disparando. Enfim, eu já estava esperando.
Eu também já tive meus “amigos”… digamos, complexos. Aliás, alguns são exemplos canônicos de um post recente meu. Acho que é por isso que hoje cultivo apenas um número limitado de amigos. O resto é conhecido. Parece ruim, mas é o jeito.
Concordo. E não acho ruim. Aquela historia de um milhão de amigos não é minha praia. Amigos pra mim é no real sentido da palavra, nao só conhecidos, e demandam tempo, dedicação, compreensão mútua e valores em comum. É um outro tipo de relacionamento, e tem que fazer bem para você, não mal. Então, parece apenas normal ter um número limitado.
Claro que indivíduos mais excentricos como a gente tem este numero ainda mais limitado 🙂
Bom, tinha sido um comentário, não uma crítica. Você está enxergando críticas onde não há. (*Isto* foi uma crítica.)
Depois de algumas mudanças de cidade, emprego, etc, percebi que só o tempo diz quem são seus amigos. É muito fácil dizer que é amigo de alguém que você vê todo dia, mas vai precisar do cara e vê no que dá, vai falar umas verdades e vê o que você ouve. Já diria Renato Russo, “o tempo é mercúrio cromo”. Afaste-se. Se depois de um tempo você reencontrar essa pessoa, e em 10 minutos conseguir ter o mesmo nível de conversa que tinha antes, achou um amigo.
Elvis, seu “comentário” foi dirigido, não genérico.