Depois de quase 4 anos vivendo na Alemanha, aprendi bastante coisa sobre como o país funciona. Uma das maiores potências mundiais, com uma qualidade de vida impressionante, tem muito o que ensinar. Fala-se muito em Holanda, Noruega, mas a vida aqui é bastante confortável, e com mais sol. E com a ocasião da minha gravidez, pensei em contar um pouco do quanto o governo daqui é pró-família.
Começa no planejamento familiar, claro. Como a população tem um nível grande de educação, a maioria conhece métodos anticoncepcionais. Mas para quando existe algum problema – seja de saúde, do feto ou da mãe, ou por circunstancias em que a mulher não quer ser mãe naquele momento mas acabou engravidando – o aborto é uma solução perfeitamente legal. E veja bem, o país continua gerando – e muitas – crianças. Um passeio a pé em qualquer bairro pode demonstrar isto.
O conceito de família também começa com dois adultos que decidem formar uma. Não importa se são dois diferentes ou dois iguais. Casais homossexuais tem os mesmos direitos que os heteros, inclusive para adotar. E o país não está sendo dizimado.
Agora, quando uma família – ou mesmo uma pessoa sozinha – resolve ter um filho, o governo está lá para apoiar. A sociedade em geral me parece entender a idéia de que se queremos a continuação desta sociedade, pais que decidem ter filhos precisam de algum apoio. As medidas deste apoio aposto que deixam meus amigos liberais de cabelo em pé. Mas olha, tem funcionado bem.
Seis semanas antes da data prevista do parto e 8 semanas depois do parto, é a licença maternidade, com salário integral pago pela empresa empregadora. Depois disto, a mãe ou o pai pode receber do governo o equivalente a 65% do salário (com teto de 1800 euros) durante 14 meses para ficar em casa. É o chamado “dinheiro para os pais” (Elterngeld) – e vale para filhos naturais ou adotados. Geralmente os homens pedem apenas dois meses, mas o número de homens que pedem mais tempo tem aumentando. A idéia de papeis femininos ou masculinos ainda é muito forte aqui – pelo menos na Bavária – mas espero que com o tempo sejam mais parecidos aos países nórdicos neste sentido, de onde se espelham estas ajudas.
A ajuda financeira dura este tempo, mas se o pai ou a mãe resolver ficar em casa mais tempo, também tem esse direito, por até 3 anos em total desde o nascimento. E se o pai ou mãe trabalhava antes, a empresa tem que manter o posto de trabalho aberto para quando este retorne ao trabalho. Sufocam as empresas? Como disse no princípio, a Alemanha tem resistido bravamente a crise e os negócios por aqui vão muito bem obrigado. Reservar alguns meses em que um trabalhador tenha que ausentar-se, por uma, duas (mais comum) ou três vezes durante a vida parece ser um bom preço em troca de uma sociedade estável. Um direito igual a não ter que trabalhar fins de semana ou jornadas de trabalho maiores de que 8h ao dia.
Ser pró-família para mim é isto. É respeitar o tempo das pessoas, não obrigando-as a assumirem uma responsabilidade quando não querem. Nem ignorando uma parcela da população que pode e quer criar uma família, que tem todos as possibilidades para dar um lar e apoio a crianças sem isto. E depois que as famílias estão formadas, dar apoio a elas para terem tranquilidade no momento que os bebês são mais frágeis, sabendo que podem contar com apoio financeiro e segurança no trabalho.