Minimoe na Alemanha

Este post é dedicado a amigos e familiares que chegaram a conhecer e amar a Minimoe. Se você gosta de gatos ou apenas curiosidade sobre viajando com gatos, também pode lhe interessar.

Sempre gostei muito de gatos, e sempre tive gatos desde pequena. Tenho a mais profunda convicção da lenda absurda que os rondam – gatos são animais carinhosos, leais e compreensivos. São muito mais independentes e tem muita personalidade, o que os torna ainda mais especiais.

Em 2003, em um período difícil da minha vida, encontrei Minimoe para adoção em uma comunidade no Orkut. A dona não podia mantê-la mais, e ela foi morar comigo. Passou os primeiros dias dentro do guarda-roupa, mas aos poucos foi se acostumando e viramos grandes amigas.

E com o tempo fui aprendendo sobre sua personalidade. Minimoe é extremamente carinhosa, companheira e preguiçosa. Mais que isto, costumo dizer que é uma dama, sempre delicadinha e com bons modos – bom, nem sempre… mas foi criada em apartamento desde que nasceu, tinha terror de ir para a rua. Enquanto vivi em São Paulo, meu apto foi palco de muitas festas e visitas, e Minimoe fazia questão de cumprimentar qualquer um que chegava. Ela não gostou apenas de uma pessoa que passou por lá, preferia meus amigos homens e tinha uma preferencia especial por loiros. Também me acordava pontualmente as 5 da manhã se não tinha comida para o lanche da madrugada, miando algumas vezes e colocando a pata no meu nariz se eu tentava ignorar-la – logo aprendi a nunca ir dormir sem ver se ela tinha o suficiente para a noite. Ela come pouco porém várias vezes ao dia, e uma vez pela noite. Muito curiosa, ela precisa cheirar tudo que se come ao redor dela, mas não quer nada além de ração. A única excessão é kani-kama e azeitonas – sempre que pedíamos pizza nas festinhas, ela não deixava ninguém comer se não ganhasse uma azeitona. Também ama catnip. Uma vez provavelmente por desatenção minha ela encontrou um pacote – quando voltei pra casa depois do trabalho, ela estava literalmente trançando as patas. Ela também tem o hábito de chamar quando é horário de dormir – 11:30 geralmente ela subia na cama e começava a miar, até eu largar o computador e ir dormir.

Porém ao começar a trabalhar para Intel e viajar muito mais frequentemente, ela ficava sozinha muito frequentemente. Minha anja veterinária Marina a visitava sempre, mas eram claros os sinais de stress. Tentei adotar uma compania, que foi muito mal recebido por Minimoe e depois de quatro dias sem dormir com a zona na casa, infelizmente devolvi.

Ainda gostaria de adotar um gato preto ou um bengal, mas vamos ver. Mas com tantas viagens, achei melhor deixar ela com alguém que pudesse dar mais atenção. Assim Minimoe se mudou para Florianópolis, onde foi viver em uma casa com outra gata e, horror dos horrores, um cachorro… sua nova companheira era Bianca, uma gata persa branca criada pela minha irmã, dona de uma personalidade não muito amigável. Minimoe sendo a lady que é, não tinha a menor ideia do que fazer para se defender. Minha mudança para Londres não ajudou muito já que a lei britânica prevê uma possível quarentena para animais vindos de certos países inclusive o Brasil. Mas apesar dos cuidados da minha irmã, apaixonada por animais desde sempre, era claro para mim que Minimoe não estava feliz e protestava muito. Então quando decidi me mudar para Alemanha, logo comecei a buscar maneiras de trazê-la.

As regras da União Européia são primeiro, o animal portar um chip eletrônico que o identifique. Segundo ter a vacinação atualizada, esperar um período de 30 dias, coletar sangue e fazer testes em centros certificados – no caso o Instituto Pasteur em São Paulo – e esperar 3 meses em observação. Após isto, se tudo estiver bem, o animal pode viajar. Depois de combinar tudo com a veterinária – Dra Carla Sales, de Florianópolis, que cuidou de todos os procedimentos – busquei maneiras de trazer-la. Uma estimação a partir de um site de transporte internacional de pets me rendeu uma cotação de 2300 dólares. Are you kidding me? Por este preço vou eu buscar-la. Então pensei em um amigo que atualmente mora em Florianópolis e está frequentemente pelo território europeu – santo KD Hélio Castro 🙂 e tudo combinado para Minimoe vir. Helio teve que ir no Ministério da Agricultura, onde encontrou uma funcionária que havia começado uma semana antes e ainda estava descobrindo o que fazer; mais o fato que a TAM usa um modelo de caixa de transporte completamente aleatório, o que para mim apenas serve para evitar que animais sejam transportados na cabine. Mas Minimoe então faria o trajeto até São Paulo no bagageiro de animais, e via Lufthansa até Munique na cabine.

Para minha surpresa, parece que ela ficou bastante calma durante toda a viagem. A TAM quase a esqueceu no bagageiro, coisa que sabiamente Helio só me contou depois que chegaram. Mas com a Lufthansa, nenhum problema, o vôo vazio possibilitou uma fileira apenas para os dois – Helio e Minimoe – e ela pouco se manifestou. E finalmente, quase 18 horas depois de sair de Floripa, ela chegava a nova casa.

Ao abrir a caixa de transporte, ela parecia um pouco ressabiada, mas nem de perto o assustada que eu esperava. Cheirou algumas coisas, mostrei para ela seu novo banheiro – uma caixa com porta de plastico com areia sanitária dentro – a fonte de agua e uma caminha confortável. Ela deu uma volta e parecia querer se recolher dentro do seu banheiro. É normal para gatos passarem dois ou três dias entocados em algum lugar quando vão a uma casa nova. Mas eu quis deixá-la o mais a vontade possível, e então saquei meu truque infalível – Whiskas sachê. Apenas a visão do pacote já lhe fez esticar o pescoço, o cheiro lhe animou a sair da toca. Enquanto ela comia eu conversava e lhe fazia carinho, e ela começou a reconhecer alguma coisa. Ela ia cheirar meus sapatos e armario, caixa de meias e camisas – a casa ainda tem coisas minhas em caixas já que nos mudamos há uma semana – e vinha me cheirar. Algumas vezes fazendo isto e aparentemente ela se lembrou que já moramos juntos muito tempo, e começou a explorar a casa como se reconhecesse quase tudo. Passamos um bom tempo fazendo reconhecimento da casa juntas, e em menos de uma hora ela já se sentia confortável o suficiente para se arriscar no andar de baixo. O sinal maximo de contentamento veio logo depois, com ela rolando pelo chão e ronronando.

A noite ela passou algum tempo comigo na cama antes de dormir mas logo foi colocada para dormir na sua caminha fora do quarto. Quando acordei ela já estava esperando, passeando pelo andar de baixo e curiosa pelo que havia lá fora. Lhe mostrei a sacada, onde certamente ela percebeu que a vizinha de baixo tem um cachorro, que não estava à vista no momento. E durante o dia, tentei reservar alguns momentos para ficarmos juntinhas, o que ela demonstrou seu apreço ronronando muito. Claro que a este estágio ela já é a dona do pedaço, reclamando de o que é que eu tenho de mais importante pra fazer ao invés de ficar na cama com ela.

Foi interessante também ver que ela reconheceu minha maleta rosa e o que significa quando eu começo a encher de coisas ali. Precisei viajar para o Desktop Summit, e ela não gostou nada nada. Ela literalmente me dá as costas quando está brava, o que ela fazia quando eu lhe dizia que voltava logo. Mas segundo Hector, ela está tranquila, dormindo no meu lado da cama enquanto eu não volto.

O proximo passo será registrar-la em um veterinario – assim se algum dia ela fugir ou se perder, com o registro do chip eles podem me encontrar – e tirar um passaporte para ela. Não pretendo fazê-la viajar muito, mas pelo jeito ela já está confortável o suficiente para isto, então se tiver que optar entre deixa-la sozinha ou em um hotel para gatos ou levá-la comigo, vou ver como ela se comportaria em um hotel. Se isto acontecer, escrevo mais um relato 🙂

Meus agradecimentos especiais à minha irmã e minha mãe por cuidarem dela durante este tempo; à veterinária por ajudar e cuidar de todos os trâmites; ao santo Helio pela ajuda e dedicação, e a sua namorada que mesmo sem me conhecer, ajudou imensamente a encontrar a caixa de transporte e cuidar dos detalhes da viagem; ao meu namorado fofo que cuida dela enquanto estou em Berlim; a Marina e Piter por terem cuidado dela tantas vezes enquanto eu viajava; e claro, a Daniela que confiou em mim para cuidar da Minimoe em 2003. Achei que vocês todos gostariam de saber que ela está bem e estamos juntas outra vez.

Tem muita gente que diz que os gatos se apegam ao lugar e não as pessoas. A próxima vez que alguém lhe disser isto, indique este post 😉